domingo, 13 de janeiro de 2013

Só há um pecado

-

"A Ana Teresa é presidente da Câmara de Palmela. Faz 47 anos no final do mês. Ficam desde já os meus parabéns. É mais nova do que eu e já tem direito a uma reforma superior a 1800 euros. Eu ainda vou ter de trabalhar mais 20 anos e não sei se vou ter reforma.
A minha indignação nem sequer se dirige à Ana Teresa em particular, mas cresce quando me ponho a pensar nos milhares de Anas Teresas e Manuéis Josés da política à portuguesa. E no que diz respeito à teta autárquica, tudo isto acontece com muita frequência no PSD, no PS e na CDU. Bloco e CDS só não têm muitos reformados porque têm poucos autarcas.
Ana Teresa é do PCP, esse partido com paredes de vidro, que reclama com muita frequência contra os privilégios das classes dominantes. Vergonha na cara é que estes dirigentes comunistas não têm. Eles saberão explicar-nos que seriam parvos se não beneficiassem do mesmo que os outros e muitos portugueses ficarão tentados a dar razão à hipocrisia.
Acontece que a espiral recessiva de direitos não tem poupado os pensionistas do regime geral, mas continua a permitir reformas de "mérito político". O PCP é contra, mas deixa andar. Pudera, os privilégios dos outros é que são injustificados, os nossos são da mais elementar justiça.
Seja, não pode haver leis que se aplicam a uns e não a outros. Mas os políticos têm ou não têm direito a estas reformas? A lei diz que sim, mas esse direito foi obtido com juízo em causa própria. Políticos que legislam sobre privilégios de que beneficiam apenas políticos é bem capaz de ser uma coisa em que o homem comum também gostaria de participar.
Agora que, em Portugal, está na moda ser "constitucionalista", também me ando a esforçar para ter umas equivalências e queria, portanto, recordar que o parágrafo 2 do artigo 13.º da Constituição, que define o princípio da igualdade, não se preocupa apenas com quem possa ser "prejudicado ou privado de qualquer direito". Começa, aliás, por dizer que "Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado [...] em razão de...". Ora, estas reformas de que beneficiam são um claro privilégio em razão de eles próprios se considerarem uma classe à parte, porque o trabalho político vale mais do que outro trabalho qualquer.
Este texto pode parecer populismo antipartidos, mas é tão-só a mais pura indignação contra o pior da natureza humana que aqui se revela. Tirado de ouvido do filme O Menino de Cabul, que passou na SIC uma destas madrugadas e que resulta do livro de Khaled Hosseini, "Só há um pecado, o roubo. Todos os outros são uma derivação. Quando mata, está a roubar uma vida. Quando mente, está a roubar o direito de alguém saber a verdade. Quando trapaceia, está a roubar o direito à justiça." (DN - Pedro Baldaia)

1 comentário:

Filipe Quintino disse...

Havia em Elvas um Pajem que queria casar com a filha do Rei. Como o Rei não queria tal casamento, mas para não ficar mal visto, propôs ao pajem que fosse na sua montaria recuperar o Estandarte de Portugal que se encontrava em Espanha e que tinha sido tomado como prémio de vitória a Portugal. O homem lá foi sózinho e no regresso, como vinham os Castelhanos atrás dele, mandou o Rei fechar as Portas da Cidade ao inimigo. Chegando às portas o triste cavaleiro, eis que atira o estandarte por cima das muralhas e vai-se contra os Castelhanos sózinho morrendo na investida. Esta história é como a do Zé de Melo. Os Comunistas, têm que dar o exemplo e irem sózinhos, sem votos, contra uma Lei aprovada pela maioria da Assembleia, que sendo inconstitucional precisou de dois terços dos votos(foi com o PS/PSD e CDS) para ser aprovada. E agora têm que ser as ovelhas sacrificadas porque votaram contra e até lhes chamam hipócritas. Fazem o quê ? Investem sózinhos contra os castelhanos quando o próprio Povo é que escolheu os Reis que tem ?