quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A esquerda envergonhada

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Portugal pobre de pedir paga impostos de montantes superiores aos que se praticam na Europa dos ricos. Por outro lado, o Governo inunda com milhares de milhões de euros bancos que parecem estar na penúria. O último caso em presença é o auxílio de mais de um milhão prestado ao Banif, cujo património é muito inferior à generosa entrega. O apoio e a defesa do sistema capitalista são característicos dos governos deste tipo. Não é de surpreender. O pior é que a doutrina amparada por Passos Coelho convive, dificilmente, com a democracia. Estamos numa situação de ruptura total e esta existência problemática não parece convencer a trupe que dirige o País. Por outro lado, vozes qualificadas opõem, a esta governação cega, uma visão que recusa a redução do humano ao estrito conceito de homo oeconomicus. Há outros caminhos. Todavia, o mito da inevitabilidade, proclamado pela clique, parece sólido. Mas não é. O próprio carácter do neoliberalismo é frágil na essência porque pretende ocultar o homem e atribuir-lhe, apenas, o valor que o "mercado" lhe dá.

O regabofe que por aí vai está associado ao descalabro. No último fim-de-semana, o jornal i revelou que o Governo dispõe de 164 "especialistas", com vencimentos até 5775 euros mensais e cuja "experiência" é mais do que duvidosa. Quinze por cento desses animosos espíritos têm entre os 24 e os 29 anos. O Tribunal de Contas franze o nariz, dubitativo. Torna-se manifesto o nepotismo que comporta a expressão "empregos para a rapaziada." O cerco foi habilmente montado e fortalecido através de enunciações como "modernidade", "reforma" ou "reestruturação." E, também, com a inércia da esquerda, cuja melancolia passadista chega a ser deprimente. As consequências da "perda" sucessiva de batalhas, a ausência de respostas à ofensiva do capitalismo e o recurso a chavões já sem sentido foram ocasiões privilegiadas para o avanço das forças mais retrógradas da sociedade. O curioso de isto tudo é que Walter Benjamin (tão esquecido quanto desprezado) já previra a degenerescência da esquerda ["Thèses sur la Philosophie de l'Histoire"], cuja leitura receio tenha sido alguma vez frequentada pelas criaturas que dirigem os PS europeus.

A verdade é que se esta esquerda deixou de ler, esta direita recorre a livros cheios de azebre. Se há, na direita, quem tenha o ânimo de citar Brasillach ou Drieu La Rochelle, ou, mesmo, Maurras, a esquerda marginaliza-se ocultando os seus grandes autores, como se procedesse a uma incómoda autopunição. Como exemplo modesto recordo-me de, há anos, João Cravinho, a propósito de qualquer interpelação provocatória, ter afirmado: "Sim, senhor, sou de formação marxista, e depois?!" A esquerda parece ter vergonha dos seus escritores e contribuir, com as suas omissões deliberadas, para se colocar, a ela mesma, num limbo associado à confusão de ideias. (Baptista-Bastos - DN)



1 comentário:

Filipe Quintino disse...

Mas isso é normal. A ignorância deste Povo e o controlo dos media por parte da Direita e dos grupos económicos cá estabelecidos, sempre colocaram etiquetas à Esquerda (que é o mais fácil)e sempre recorreram a comparativos da Esquerda "falhada" para exemplificar a Esquerda de Portugal. Comparando-a com a Esquerda de Estaline, de Kim Yong-Il, de Pol Pot, da Perestroika, da ex-Alemanha de Leste, etc. A esquerda das Comunas Francesas com as suas gigantescas cooperativas, as Comunas da Noruega, da Finlândia, a Esquerda de sucesso Bolivariana da América do Sul, do Partido da Terra, etc. já não interessa comparar. É mais fácil falar mal do regime de Castro em Cuba do que do sucesso dos seus médicos de Havana e do seu sistema de saúde. Cada vez que vejo um Furacão passar pelas Caraíbas a caminho do continente Norte-Americano, só me lembro da história dos 3 porquinhos. No fim, vêm-se casas de Tijolo em Cuba e casas de Madeira nos Estados Norte-Americanos.