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O presidente pequenino
É normal recordarmos os líderes que marcaram a nossa história pela positiva, não foram muitos e alguns deles nem estavam muito preocupados com a nação, mas a memória colectiva ajuda-nos a recordar o que de bom se fez. Talvez por isso passemos o tempo a homenagear o Viriato, que não era assim tão tuga quanto isso, o D. Afonso Henriques que deu uma coça na mãe, os descobridores e o Marquês de Pombal.
Convenhamos que para mais de mil anos não é grande coisa, mesmo que acrescentemos personalidades como o Egas Moniz, a Padeira de Aljubarrota ou o Carlos Lopes. Mesmo assim são os suficientes para esquecermos aqueles que durante uma boa parte do tempo geriram as longas brancas da nossa memória colectiva.
E se durante longos períodos pouco restou para a nossa memória colectiva também são muitos que passaram pelo poder e de quem ninguém se lembra ou, como será o caso de Cavaco Silva, ninguém se irá lembrar. Como povo costuma dizer, dos parvos não reza a história. No caso de Cavaco Silva o termo parvo até é muito simpático, basta recordar o episódio das escutas a Belém para percebermos que qualquer adjectivo apropriado para este senhor implica fazer ofensas ao Presidente da Pública, delito que o Código Penal pune com uma pena que pode ir até três anos de prisão.
Cavaco foi um homem pequenino, um político que marca as últimas décadas da nossa história pela falta de grandeza, pela mesquinhez, pelo novo riquismo, pelo oportunismo, pelo golpe baixo. Cavaco está associado ao que de muito mau aconteceu neste país, não admira que tenha deixado o cargo de primeiro-ministro com os cofres vazios e a pagar aos funcionários com títulos do Tesouro e deixe a Presidência com o país mergulhado numa profunda crise política, económica e social.
Cavaco vai ser um presidente de má memória e é merecedor da forma pouco digna como acaba o mandato, acaba dez anos de presidência de uma forma quase miserável, depois de semanas a distribuir medalhas faz o seu último discurso numa cerimónia montada por um acólito de Cascais, um discurso sem dimensão, sem conteúdo, sem qualidade, um discurso à imagem do político que sempre foi.
A Primavera começa no próximo dia 20, mas hoje é o último dia do inverno cavaquista, amanhã ninguém se irá lembrar deste homem pequenino que em má hora marcou a vida política portuguesa. Foi o homem pequenino que numa declaração à PIDE orgulhava-se de não se relacionar com a sogra porque essa “criminosa” se tinha divorciado, que protagonizou o episódio das escutas a Belém, que um dia disse querer ajudar Mário Soares a terminar o mandato presidencial com dignidade, que recusou uma pensão a Salgueiro Maia para da dar ao inspector da PIDE.
Em Coimbra temos o Portugal dos Pequeninos, em Oeiras temos o Parque dos Poetas, na teremos o Portugal dos Mesquinhos.
In "O Jumento"
quarta-feira, 9 de março de 2016
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