O regime angolano condenou 17 ativistas a penas entre os dois e os oito anos de prisão, pelo crime de estarem a ler um livro. Esta decisão política do poder judicial é, antes de mais, a expressão da fratura social provocada pelo regime. Mas revela também o desespero do fim de um ciclo de quase quatro décadas: é que o regime, ao condenar estes ativistas, não faz mais do que revelar o seu próprio medo do fim.
Em Angola, como escreveu Ondjaki, existe um país em que gente superior "que está a mandar mais do que Deus". É o país de José Eduardo dos Santos, da sua família, dos seus ministros e generais. Sob a retórica da nova economia liberalizada, esconde-se a velha corrupção de uma oligarquia milionária que se alimenta do petróleo e diamantes. As cumplicidades que têm em Portugal podem ser ouvidas no silêncio de quem elogia a influência do capital angolano na economia portuguesa mas se cala perante as sucessivas violações dos direitos humanos.
O país dos 17 ativistas condenados é outro. É a Angola real, que tem a maior taxa de mortalidade infantil do Mundo e onde uma parte significativa da população vive com menos de um dólar por dia. Ao contrário do que o poder insiste em repetir, o que estes ativistas fizeram não é um atentado contra o Estado angolano; é uma homenagem à sua persistente história de luta.
Não nos esqueçamos destes nomes: Luaty Beirão, Domingos da Cruz Maninho, Nuno Alvaro Dala, Sedrick de Carvalho, Manuel Nito Alves, Inocência de Brito, Laurinda Manuel Gouveia, Fernando António Tomás, Mbanza Hamza, Osvaldo Sérgio Correia Caholo, Arante Kivuvu, Albano Evaristo Bingo, Nelson Dibango Santos, Itler Samassuku e José Gomes Hata. Perante a violência de quem usa a repressão, repetir o nome destes ativistas é, por si só, um ato de liberdade.(Mariana Mortágua - Jornal de Notícias)
Sem comentários:
Enviar um comentário