terça-feira, 1 de setembro de 2015

O triste raciocínio de Paulo Rangel

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"Se for verdade, como diz Paulo Rangel, que quando o PS está no poder a Justiça não investiga antigos primeiros-ministros, será obrigatório concluir que a partir desta legislatura, sempre que PSD-CDS chegarem ao governo, a Justiça perseguirá anteriores inquilinos do Palácio de São Bento. Se o jurista acredita na primeira hipótese, tem necessariamente de aceitar a segunda.
Por outro lado, tal asserção do antigo secretário de Estado adjunto da Justiça acaba por insinuar que além de José Sócrates, no passado, deveriam ter sido investigados outros antigos primeiros-ministros. Quem? Santana? Durão? Guterres? Cavaco? Soares? Balsemão?... Rangel não percebeu isto!?
A tese do também ex-candidato a líder dos sociais-democratas, figura com pretensões a primeiro-ministro, ainda nos deu mais isto: "O ar democrático hoje é mais respirável."
Não fiquemos pela Operação Marquês que meteu Sócrates na cadeia. Pensemos sobre a qualidade do ar respirada noutras investigações e julgamentos como os casos Tecnoforma, vistos gold, submarinos, BCP, BPN, BPP, BES, Maria de Lurdes Rodrigues, Duarte Lima, Isaltino Morais, Face Oculta, Freeport, Maddie, Casa Pia... Todos eles foram poluídos com ventos de intoxicação da opinião pública e, mais grave, de manipulação do próprio sistema judicial através de uma venenosa gestão informativa de teses da acusação, a conta-gotas, ao longo de meses e anos, contraditórias ou complementares, reveladoras ou omissas, passadas aos jornais amigos e à acidez difamatória das redes sociais. Isto é democracia respirável?... Não.
Também acho graça vir o PS, através de Francisco Assis, acusar Paulo Rangel e Passos Coelho de partidarizarem a justiça (o primeiro-ministro fez uma referência indireta ao caso BES)como se fossem inocentes depois de totalizarem 17 anos de governo de Portugal e terem sempre recusado aos investigadores (tal como o PSD nos 20 anos em que liderou executivos) os meios técnicos e humanos obviamente essenciais para um combate sério à grande criminalidade.
E os senhores juízes e magistrados, igualmente indignados, a jurar impermeabilidade a pressões políticas, como se não estivessem necessariamente implicados nos sistemáticos julgamentos prévios oferecidos à populaça através da imprensa e não tivessem, muitos deles, chegado ao despudorado estado de festejarem no Facebook a prisão preventiva de Sócrates.
Enquanto o poder em Portugal se dividir entre gente que se abriga, toda ela, debaixo do chamado "arco da governação", estas trocas de acusações não passam de exercícios de hipocrisia a tentar inventar diferenças e divergências onde, no essencial, não as há. Lamentável."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)


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