domingo, 22 de julho de 2007

E NÓS, DEIXAMOS?

Que liberdade de imprensa?
Como blogger poderia abster-me de opinar sobe o debate em torno das alterações que o governo pretende introduzir na actividade jornalística, poderia simplesmente dizer eu moro noutra freguesia, sou um cidadão comum que exerce o seu direito de opinião.
Mas não tenho dúvidas que depois de meter os jornalistas na ordem o governo (este ou qualquer outro) vai querer fazer o mesmo aos blogues, depois irá ter com os jornais de paróquia e acabará por impor regras para os desdobráveis do Continente.
Vivemos num país de boas maneiras, não podemos dizer tudo o que pensamos, no momento de opinar temos que cuidar da honorabilidade da mãe do senhor primeiro-ministro, respeitar as convicções e preferências sexuais do senhor prior, ter muito respeitinho pelas autoridades e ter cuidado com os magistrados. A vingança pode ser terrível, pode chegar sob a forma de queixa-crime, de um processo vitalício no Ministério Público inaugurado com buscas domiciliárias a partir das 7 da manhã, marginalização social ou mesmo a terrível excomunhão que nos deixará nas portas do inferno.
Vivemos numa democracia onde elegemos os que nos governam mas quando estes estão no poder não podemos dizer o que pensamos deles, podem enganar-nos, podem empregar os amigos na Caixa Geral de Depósito, podem vender a empresa pública por ajuste directo, podem mandar-nos para a guerra. A nós cidadãos resta-nos esperar quatro anos para voltar a votar, mesmo que tenhamos a convicção de que, afinal, aqueles que escolhemos são uns requintados filhos de mães pouco recomendáveis temos que ficar calados.
É evidente que o jornalista não se pode limitar a pensar e opinar, cabe-lhe informar, mas informar o quê? A grande fonte de informação é o Estado, a maioria das manchetes ou resultam de “fugas de informação” ou de favores do poder, em ambos os casos estamos perante manipulações da informação.
Se um jornal beneficia da ajuda de um magistrado e queima um cidadão na praça pública muito antes de qualquer condenação é certo de que não foi condenado, o jornalista limitou-se a divulgar algo que é verdade e o “garganta funda” da magistratura nunca será descoberto, quando isso suceder será o primeiro. Se o mesmo jornal divulgar em primeira-mão uma medida governamental que ainda não saiu do projecto Ada lhe sucederá, o ministro que promoveu a fuga da informação nunca será denunciado por violar as mais elementares regras da democracia. É raro o dia em que um governando não manda as regras da democracia às urtigas e em vez de discutir as suas propostas em locais próprios as envia para divulgação e debate público através de um jornalista amigo.
Mas se alguém questionar a origem do dinheiro com que a filha do senhor ministro comprou o último modelo da Mecedes é o “ai Jesus”, a menina tem direito à sua privacidade, o ministro é homem íntegro que faz um grande sacrifício ao exercer um cargo público, está-se a cometer uma grave violação dos deveres deontológicos. Os governantes podem aumentar impostos, podem prejudicar o futuro dos portugueses com medidas incompetentes, mas não se pode duvidar da sua bondade. Nem dos actuais, nem de outros que depois de terem passado pelo governo deixaram d ser modestos cidadãos para serem banqueiros bem sucedidos.
Soa muitos mais os prejudicados pela censura, pela auto regulação ou qualquer outra forma de condicionamento da liberdade do que os portugueses lesados por governantes que beneficiam de uma total impunidade, que podem manipular a informação para se auto elegerem ou abafar os seus abusos ou incompetências. Menos liberdade de opinião e de informação apenas terá um resultado: menos democracia e mais corrupção, e quem defende fórmulas mais ou menos subtis de condicionar a liberdade de expressão está a defender a incompetência e a corrupção.

In JUMENTO, 21-07-07

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