"Pedro Passos Coelho noticiou ontem que Nuno Crato, após a catadupa de falhas e erros no início do ano letivo, se ofereceu, de baraço ao pescoço, ao sacrifício da demissão mas "nunca evitou agarrar no problema e nunca procurou lavar as mãos do assunto. Isso só significa que acertei quando o escolhi para ser ministro da Educação". E, por isso, Crato prossegue, serenamente, a gestão de um ministério onde, no projeto de Orçamento do Estado, se promete cortar para o ano mais 700 milhões de euros.
Se o objetivo de Passos, quando formou governo, foi o de procurar homens e mulheres que teimosamente insistissem em repetir erros em cima de erros, sem nunca perder a determinação com que procuram novos erros para cometer, então, não há dúvida, Nuno Crato foi uma escolha espetacular.
De resto o homem já reincidiu: os tais 700 milhões de cortes inscritos por Maria Luís Albuquerque nas contas da Educação são "na prática, 200 milhões" disse-nos ele guiado, suspeito, pela habitual matemática obstinadamente errada e candidamente adorada pelo chefe do governo. Com números lidos assim adivinho já as casas de apostas a tratar de cotar a data da próxima paralisia das aulas em Portugal: "Será antes das férias de Natal (pagamos 1,2 por cada euro apostado) ou no segundo período (4,50 por cada euro apostado)?"
Com a confiança de quem está habituado a prever coisas que não acontecem - qualidade certamente imprescindível para trilhar caminhos políticos com Passos Coelho - o homem que coloca professores à balda e depois pede desculpa garante que não encerrará escolas em 2015, nem decidirá novos despedimentos de professores, nem aplicará experimentalismos nas salas de aula... à luz do passado deste político deverá acontecer, portanto, o contrário.
Este governo retirou, desde 2012, mais de 1750 milhões de euros ao financiamento do ensino pré-escolar, básico e secundário e 401 milhões ao ensino superior. Isto foi feito com Crato a garantir, obstinado, que o ensino público ia melhorar. O desastre está à vista, claro. "Não faz mal", repete o hipotético demissionário, "para o ano reforçamos a dose". E, neste caso, nem desculpas pede!
A teimosia de Crato é a mesma qualidade que levou Passos a aprovar orçamentos errados, retificados várias vezes ao longo dos exercícios, como irá acontecer em 2015. A teimosia de Crato é a mesma que leva Passos a insistir, para salvar o país, em empurrar uma boa parte dos portugueses para o nível de vida limiar à pobreza. Por isso Passos está certo quando diz que viu, em Crato, as virtudes que, cegamente, acha que ele próprio tem. Há muito tempo que não ouvia palavras tão acertadas do primeiro-ministro."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)
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