Corruptos mas lavadinhos e bem cheirosos
No país onde vivo se comprar um carro que vá um pouco além de um equivalente ao Carocha torno-me de imediato suspeito de corrupção, há uma lei que manda que me seja instaurado um processo disciplinar ainda antes de me perguntarem de onde veio e, por via das dúvidas, o processo deve ser comunicado ao Ministério Público. Como sou funcionário público sou, por definição, um potencial criminoso.
No país onde vivo uma empresa que vive de obras públicas oferece gorjetas de cinquenta mil contos mas beneficia de uma lei feita pelos políticos que determina que a gorjeta a políticos não constituem crime. São os mesmos políticos que decidiram que basta eu comprar algo reservado aos ricos para me tornar arguido, primeiro sou investigado e depois é que me perguntam donde veio o dinheiro. Melhor sorte teve o PSD e a Somague, toda a gente sabe de onde veio e para onde foi o dinheiro e não foram investigados.
Só um idiota poderia ter pensado que a Procuradoria-Geral da República iria considerar que uma gorjeta tão generosa seria indiciadora de outros financiamentos ilegais e que a estes poderiam estar associados favores políticos, merecendo uma investigação extensiva às relações entre a empresa(s) e o(s) partido(s). O Ministério Público não procurou saber se houve favores, como não procurou não os encontrou e como não os encontrou chegou à conclusão óbvia, não houve crime.
Vivo num país onde uma empresa leva uma idosa a tribunal porque roubou um sabonete numa das suas lojas e uma outra empresa dá gorjetas de cinquenta mil contos a políticos. A mesma justiça que gastou o dinheiro dos contribuintes com um julgamento idiota mas não se deu ao trabalho de investigar que serviços justificaram uma gorjeta tão generosa.
Temos uma justiça para quem uns são deficientes e outros são manetas, os deficientes são os da mesma casta social, os que estão e vivem no poder, por coincidência os que decidem as mordomias de que devem beneficiar os magistrados (por exemplo, porquê um juiz do Tribunal de Contas recebe um subsídio de residência livre de impostos?). A justiça a sério está reservada aos outros, aos manetas, aos que devem viver com medo de algum dia caírem nas malhas do tribunal, aos que devem tirar o chapéu sempre que se cruza com o doutor juiz, aos que podem ir para a cadeia se forem apanhados em flagrante a roubar um papo-seco.
Querem que vos diga o que penso dos assaltantes de bancos? Que são parvos, em vez de comprarem armas deveriam inscrever-se numa qualquer universidade para serem doutores, comprar uns fatos riscados, inscrever-se no PSD e irem à Universidade de Verão, se ainda estiverem em idade para isso. Assim já poderiam receber gorjetas bem maiores do que conseguem nos bancos e sem esperar pela abertura retardada dos cofres. E se a sorte política estivesse do seu lado até poderiam vir a indicar o nome do próximo PGR.
In O JUMENTO, 06-09-07
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
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