terça-feira, 16 de setembro de 2014

A inevitável liquidação do moralista Vítor Bento

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"Há exatamente 70 dias titulei aqui uma previsão fatal: "Vítor Bento a caminho da centrifugação"... Bingo!
Remover Vítor Bento da liderança do Novo Banco passou a ser uma inevitabilidade na própria hora em que o então conselheiro de Estado aceitou presidir ao, ainda, Banco Espírito Santo.
O candidato a banqueiro moralista tinha utilidade: dar cobertura, com a sua credibilidade pessoal, a uma operação de risco. Mas a partir do momento em que restos mortais do BES pudessem ser servidos à mesa financeira, a sua presença atrapalharia os comensais.
Estes senhores desejam deglutir rapidamente, inteiro ou aos pedaços, o cozinhado extraído para o "banco bom": uma bandeja cheia de agências bancárias espalhadas pelo País, milhares de milhões em depósitos, créditos e negócios potencialmente fantásticos, como a seguradora Tranquilidade (que Bento ainda vendeu por 44 milhões) ou a Espírito Santo Saúde.
Vítor Bento, Moreira Rato e José Honório, nomeados até 2017, tinham um aparente plano sensato: reestruturar o Novo Banco, em dois ou três anos, de forma a ter condições para o capitalizar em bolsa, pagando nessa altura ao Fundo de Resolução os 4,9 mil milhões mais juros com que iniciaram a atividade.
Agora a turba mediática, o governador do Banco de Portugal, o primeiro-ministro e a Comissão Europeia propagandeiam a necessidade da venda rápida do Novo Banco, a quem der mais, por causa dos "riscos" de prolongar no tempo a governação acordada (sim, acordada, não tenho dúvidas) com Vítor Bento.
"Os bancos concorrentes são acionistas do Novo Banco e não podem ter esse ponto de interrogação nos seus balanços", explicou ontem Passos Coelho.
Vejamos: inicialmente a banca só tinha no Fundo de Resolução, através de contribuições previstas na lei - que pagaria sempre, houvesse ou não caso BES -, 367 milhões de euros. O Banco de Portugal queria apenas mais 133 milhões. Os generosos banqueiros resolveram, porém, investir mais 633 milhões. O Estado, através de reservas da troika, emprestou 3,9 mil milhões. Para explicar o raciocínio de Passos Coelho o resultado final é este: os 20 % da banca no Fundo de Resolução mandam mais do que os 80% do Estado. Por isso "há que vender depressa o Novo Banco, depressa"...
Vítor Bento, feito idiota útil, lá foi centrifugado para o vácuo profissional, com um capcioso carimbo de "falta de patriotismo", punhalado por Paulo Portas e jornalistas míopes. E os banqueiros, lestos, arranjaram um dos seus para liderar a comissão liquidatária que distribuirá os despojos do "banco bom". Ricardo Salgado, em fundo, sorri."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)


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