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A Europa de pantanas, o Estado Islâmico, essas coisas... E, depois, Carlos Nunes foi ontem remetido para a página 17 no único jornal que falou dele. Carlos Nunes usa óculos, tem 49 anos, e pelas fotos não me pareceu nenhum desses frequentadores de ginásio que por esta época se mostram nas esplanadas. Ele tem uma oficina em Gulpilhares e acabou à tareia em Guetim - um mundo entre Gaia e Espinho que já não tem aquele romantismo com que as vivendas burguesas de Ovar e da Granja educaram Júlio Dinis. Ao fim da tarde de segunda-feira, um homem arrombou um automóvel estacionado frente à oficina de Gulpilhares, fez ligação direta e largou. O carro nem era do Nunes, era dum cliente. E era um velho Datsun, o seguro haveria de cobrir o prejuízo. E, aliás, o Nunes nem estava no trabalho, mas em Espinho, a 10 km dali. Prevenido por uma filha, o mecânico meteu-se à estrada, cruzou-se com o carro roubado, seguiu-o. Quando os dois carros pararam, o ladrão, de 42 anos, saltou com um machado, partiu o para--brisas e feriu o Nunes na cara e num braço, mas este não largou o agressor. Havia 20 pessoas a olhar e todos ficaram assim, a olhar. Quando chegou a PSP, o Nunes continuava agarrado ao ladrão. Foi assim. Estou a ver que não empolguei o leitor... Pois eu poria o Carlos Nunes a ir às escolas, para que os jovens soubessem uma coisa pequenina: ainda há homens. Em tempos de crise é tão necessário começarmos pelo princípio.
(Ferreira Fernandes - Diário de Notícias)
quinta-feira, 16 de julho de 2015
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