"Pedro Passos Coelho foi no princípio do mês a Moçambique. Lá, em discurso de Estado, congratulou-se: "Cerca de um milhão de euros de investimento direto português gerou em média 58 postos de trabalho, muito acima da média dos restantes investidores."
Pelas regras do pensamento económico que nos domina relacionar o valor de um investimento com o número de postos de trabalho parece coisa do passado, assim um bocado marxista, mas não serei eu a atirar uma pedra ao primeiro-ministro por cair em tentação socialista... Por mim é ótimo termos na governação alguém que pensa assim. Avante Passos!
Interessou-me, portanto, verificar se o Governo português aplica em Portugal a preocupação manifestada em Moçambique - lá as empresas portuguesas criaram um posto de trabalho por cada 17 241 euros que investiram.
Fui ver, então, o que se passou nas últimas semanas aos investimentos apoiados pelo Estado com isenções fiscais, vistos de residência gold, cedências de terrenos, financiamentos especiais, dispensa de auditorias, "simplificações" e uma cerimónia corta-fitas por Pires de Lima, Paulo Portas, o próprio Passos ou outro qualquer.
Temos a Altran, no Fundão, onde Portas anunciou 300 postos de trabalho a troco de 6,8 milhões de euros - 22 600 euros por cabeça. Não está mal, até parece Moçambique.
Temos a Monliz, em Alpiarça, onde um secretário de Estado validou 18 milhões de euros para criar 50 postos de trabalho - 360 mil euros por cada um. Para um salário médio de mil euros (superior ao salário médio nacional, que é de 971,5 euros) este valor dava para pagar durante 26 anos a cada trabalhador contratado.
Temos Pires de Lima na Unilever, em Santa Iria de Azoia: 30 milhões investidos, 80 novos postos de trabalho, 375 mil euros por cada um, o equivalente a 27 anos de salários a mil euros.
A easyJet, no Aeroporto Sá Carneiro: 74 milhões investidos, 80 postos de trabalho, 925 mil euros por cada um, o mesmo que 66 anos de salários. Pires de Lima sorriu.
E a Autoeuropa, a grande Autoeuropa onde o próprio Presidente da República esteve para ajudar a garantir mais 677 milhões de euros de investimento em 500 empregos, o que dá um milhão e 354 mil euros por trabalhador, o mesmo que 96 anos de salários pagos a cada um.
Poderíamos dispensar algum destes investimentos? Não. Mas o que fica por saber, perdido no segredo negocial, é se o apoio que o Estado dá a estas empresas é proporcional ao investimento ou é proporcional ao posto de trabalho criado. Com o que Passos disse em Moçambique, foi com certeza a segunda hipótese... Como? O leitor está a dizer-me que não? A sério!?..."
(Pedro Tadeu - Diário de Notícias)
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