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"Quem disse esta frase? "Nunca acusarei o Partido Comunista Português de querer fazer mal a Portugal, posso é discordar das suas ideias." Não, não foi António Costa... A afirmação da recusa de ostracismo político ao PCP foi proferida por Pedro Passos Coelho, na Assembleia da República, no dia 30 de junho de 2011, durante a apresentação do programa do então recém-empossado governo.
Impressionou-me muito o que vários dirigentes políticos e vários jornalistas disseram e escreveram assim que se colocou a hipótese de PCP e Bloco de Esquerda viabilizarem uma solução governativa. Ouvi e li puro ódio.
Pego no exemplo do autointitulado "moderado" António Lobo Xavier, do CDS-PP, que no programa de TV Quadratura do Círculo afirmou não aceitar que se conte com o milhão de votos do Bloco e do PCP numa negociação para o governo. Xavier rejeita "partidos que têm na sua história o ataque à democracia portuguesa e a tentativa de instaurar uma democracia popular em Portugal e o Bloco de Esquerda que tem uma matriz leninista". E jura:"O CDS nunca teve problemas de estatuto democrático."
Circunscrever a história do PCP, fundado em 1921, ao período do Verão Quente de 1975 é uma falácia.
Esquecer que ao longo dessa história militantes do PCP, com outros combatentes pela liberdade, morreram, foram para a cadeia, sacrificaram vidas pessoais para o país poder ser melhor é uma injustiça.
Não aceitar, ao fim de 40 anos, que a verdade histórica do período revolucionário tem de incluir no seu relato inúmeros atropelos, ataques à liberdade e à democracia cometidos por (ou com a anuência de) PS, PPD e CDS é falsear a verdade.
Esquecer que o CDS, no momento da sua fundação, serviu de refúgio a inúmeras figuras comprometidas com o lado pior do fascismo é tristemente conveniente.
Jorge Coelho, um socialista que adivinho dever ter imensas reservas a um governo PS-Bloco-PCP, arrumou, no mesmo programa, a questão: "bafiento", foi como classificou o discurso de Lobo Xavier. Alguém no PS deve ter saltado na cadeira...
De facto, achar que o Verão Quente de 1975 é relevante no cenário político atual é trair a tolerância com que os portugueses resolveram, há 40 anos, tanto os crimes do fascismo como os abusos da luta pelo poder que se seguiu à sua queda.
Quando os deputados do PSD e do CDS-PP aplaudiram - como documenta o Diário da Assembleia - aquela declaração de Passos estavam, afinal, hipocritamente, a ser condescendentes com os "idiotas úteis" do regime, PCP e Bloco, partidos, achavam, exteriores ao arco governativo.
Antes de a esquerda decidir se arranja uma solução para o país, tem de perceber isto: será capaz, depois, de lidar e vencer este ódio?"