O outro lado da UBER
«Entrámos no carro de Cândida* numa noite chuvosa de dezembro. O trânsito de hora de ponta prolongou a viagem entre a estação de Santa Apolónia e o Bairro Alto, em Lisboa, dando tempo à condutora para resumir os primeiros dois meses de trabalho para a Uber. “Como entrei a meio de outubro não o trabalhei completo, por isso ganhei muito pouco”, começa por explicar, para logo percebermos que, pelo seu primeiro mês de trabalho completo, novembro, Cândida conseguiu apenas 440 euros. Foram seis dias de trabalho por semana, 12 horas por dia. “Treze horas em vésperas de feriado”, acrescenta.
Fazendo a conta aos 26 dias que trabalhou, por cada uma das 312 horas recebeu 1,41 euros à hora. Brutos, porque grande parte dos motoristas são contratados em regime de recibos verdes e, daquele valor, ainda é preciso subtrair os impostos a pagar. Não há subsídio de férias, de Natal nem de almoço. Não há dias de férias pagos, nem proteção em caso de doença. Por cada viagem feita em Portugal, a Uber ganha 25%. Cândida ganha 35% do total das viagens, mais 5% se for assídua, ficando a empresa que a contratou com o restante. Apesar de fazer o horário de quem tem um emprego e meio, ganha menos que os 530 euros de salário mínimo fixados pelo Governo — que subiu para 557 euros a 1 de janeiro de 2017.
Mesmo assim, Cândida mantém o sorriso, com o entusiasmo de quem só agora começou um novo desafio. “Se calhar eu ainda não conheço os melhores sítios, onde há mais clientes”, arrisca. Mas também não pode circular muito à procura deles, porque o contrato que a empresa tem com o rent-a-car sobe consoante o número de quilómetros feitos. E a condutora é avaliada por tudo o que faz: quilómetros percorridos, acelerações, travagens. Tudo medido pela tecnologia. “O meu filho já tinha estado na Uber, mas não se deu bem com isto”, conta.» [Observador]
Parecer:
Talvez Assunção Cristas tenha algo a dizer sobre o assunto.
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Questione-ser a esposa do Mr. UBER.»
In "O Jumento"
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