domingo, 7 de outubro de 2007

A CORRUPÇÂO DO ESTADO

O artigo de Opinião publicado pelo jornal PÚBLICO, da autoria de
Vasco Pulido Valente que aconselho aos nossos leitores:

"A entrevista que João Cravinho deu na última quinta-feira é indispensável
para perceber a corrupção. Cravinho diz coisas de uma importância crucial,
em que esta coluna tem de resto insistido.. Primeiro que o grosso da corrupção
"se faz", com uma ou outra "entorse" imperceptível, "de acordo com a lei".
Segundo, que por isso mesmo a polícia e ops tribunais não podem ir longe e só
se ocupam de casos menores. No fundo o Apito Dourado e operações do
género são um espectáculo, que esconde os crimes de consequência. Com
grande coragem, Cravinho explica qual é o problema: e o problema é o de
certos lobbies se apoderarem de "orgãos vitais de decisões" do Estado ou dos
departamentos que as preparam. Ou, se quiserem, o de que o Estado se
tornou o principal agente da corrupção.

Isto significa que o Estado serve, não o interesse do país, como compreendido
por este ou aquele partido, mas sim o interesse dos lobbies com mais poder ou
influência. E, no entanto, nunca se fala disto, embora toda a gente o saiba ou
suspeite, a começar pelo Presidente da República, porque os "negócios"
conseguem inspirar um respeito e um temor que, por exemplo, o futebol não
consegue e que manifestamente coibem a imprensa e a televisão. O que se passa
no interior de certos ministérios de que depende a orientação da economia
nunca chega à rua. Como nunca chega à rua quem perdeu e ganhou com os
"projectos", que o Estado autoriza ou financia. Ou quem é e donde vem o
impecável pessoal que manda nisso tudo. Ainda anteontem o dr. Cavaco exigiu
novas leis para assegurar o que ele chama a "transparência da vida pública".
Infelizmente, novas leis não bastam.

Cravinho descreve o "choque" que sofreu com a complacência do PS perante a
corrupção do Estado. Sofreria com certeza um "choque" igual, e talvez pior, no
PSD. A verdade é que o "bloco central" se fundiu com o Estado. Não existe um
Estado independente do "bloco central" e muito menos dos "negócios", que o
apoiam e sustentam: da banca e da energia a quatro ou cinco escritórios de
advogados. Cravinho, como Cavaco, nã percebeu, ou preferiu omitir, que hoje
não se trata de reformar uma parte inaceitável do regime, mas pura e simplesmente
de mudar o regime. Se por acaso caísse do céu a "transparência" que o dr.Cavaco
deseja, metade da primorosa elite do nosso país marchava para a cadeia como
um fuso".

Nota do Papa Açordas: Admirável artigo de Vasco Pulido Valente.
Os nossos parabéns.

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