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Cunha. Foi a palavra feita figura de estilo que a líder do CDS utilizou para caracterizar a integração dos precários no Estado. Mais rigorosamente, a expressão de Cristas foi esta: “institucionalização da cunha”.
Assunção Cristas faz de vez em vez afirmações deste tipo. No PSD também não faltam ataques anacrónicos ao sindicalismo.
As afirmações são graves, ainda que não surpreendentes. Graves porque a democracia cristã e a social-democracia usavam saber (e defender) o papel histórico e permanente dos sindicatos numa democracia real.
O governo anterior demonstrou que a ideologia clássica dos dois partidos (PSD/CDS) foi substituída pela ideologia dos cortes. Cortes nos direitos dos mais fracos e aposta ideológica numa flexibilização laboral selvagem (aqui e ali travada pelo então odiado Tribunal Constitucional) na crença absurda (porque desmentida pela história) de que quanto mais flexibilidade laboral, mais empregabilidade.
Como se viu, a receita desumana teve o resultado oposto, como tantas pessoas advertiram, gente da área política de quem governava, e não apenas os “empecilhos” dos sindicatos.
Agora, na oposição, escutamos variadíssimas vezes o PSD a atacar o sindicalismo, o mesmo é dizer a atacar a sua própria história enquanto partido, atirando-se para um admirável mundo em que os trabalhadores devem “fazer-se à vida”.
O CDS aderiu ao estilo e, sem pudor por ter sido coautor da precaridade, atira-se ao programa de regularização extraordinária de vínculos precários na administração pública e no setor empresarial do estado. Neste sistema, regulado pela Portaria nº 150/2017, dá-se, evidentemente, um papel fundamental aos interessados, mas também se conta com as estruturas de representação coletiva dos trabalhadores, na medida em que estas podem conhecer e comunicar situações de precaridade de que tenham conhecimento. Pretende-se assim um sistema abrangente com a colaboração de todos, desde logo os que representam os trabalhadores e as trabalhadoras.
Acontece que para Assunção Cristas um sindicato representa um obstáculo ao seu mundo do cada um por si cheio da sorte que calhe ao mérito com que nasça.
Por isso, descaracteriza intencionalmente a função histórica e atual dos sindicatos e atreve-se a dizer que este sistema de regularização dos precários é a “institucionalização da cunha”.
É uma afirmação extremista, triste e em bom rigor ridícula. Usada como recurso retórico populista. Uma espécie de cunha oratória. (Isabel Moreira - Expresso)
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