domingo, 8 de maio de 2016

Alguém está a mais

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1 - Passos Coelho ainda não engoliu o facto de Marcelo ser Presidente da República. É normal. O líder do PSD fez tudo para que o professor não se candidatasse e não mexeu uma palha para que ele ganhasse. Pelo seu lado, Marcelo fez questão de mostrar que o apoio de Passos lhe era indiferente, nem o deixou colar-se à sua inevitável vitória.

Há quem defenda que Passos Coelho só tem a perder com a guerra surda que está a mover contra o Presidente da República. Aparentemente, a colagem à principal figura política do centro-direita, ao mais popular político português, a um dos seus antecessores como Presidente do PSD, trazer-lhe -ia vantagens. Mas para que isso fosse verdade era preciso que Passos não fosse o que é nem Marcelo Rebelo de Sousa defendesse o que defende.

O facto é que Marcelo Presidente era pior coisa que podia acontecer a Passos: é que, apesar de serem militantes do mesmo partido e em tese pertencerem ao mesmo espaço político, têm perspetivas ideológicas diferentes e uma divisão do mundo, em muitos aspetos, opostas. E, cedo ou tarde, a perceção por parte dos cidadãos, nomeadamente do eleitorado tradicional do PSD, pode trazer problemas a Passos Coelho. E ele sabe-o.

A história do cata-vento mediático não foi uma vingança pelo pouco apoio que Marcelo tinha dado ao governo. Foi anunciada em pleno congresso do PSD com um propósito claro:  o de pôr as bases do partido indispostas com Marcelo. Correu mal a Passos Coelho. A tentativa não colheu e os militantes do PSD não hesitaram em prestar todo o apoio ao que é agora o Presidente da República.

A guerra de Passos Coelho e do seu grupo mais próximo a Marcelo Rebelo de Sousa não tem que ver, repito, com o pouco amor que tinha pelo anterior governo nem com o aparente apoio ao actual. Tem raízes bem mais profundas. É um conflito ideológico, de opções políticas fundamentais, da visão do lugar que o PSD deve ocupar no nosso panorama político. No fundo, este conflito de Passos Coelho com Marcelo é o conflito que pode marcar o destino do PSD e o do centro-direita português.

É absolutamente evidente, e não é de agora, que há uma vontade clara de tornar o PSD um partido de direita, claramente de direita, algo que o PSD nunca foi. Claro que essa pretensão de Passos Coelho é perfeitamente legítima, mas além de chocar com o passado, choca com muitas figuras relevantes do partido, ex-líderes - Ferreira Leite, por exemplo, diz que não é de direita - e, nomeadamente, com Marcelo Rebelo de Sousa.

É verdade que Durão Barroso deu o pontapé de saída para essa viragem. Mas se parece claro que o ex-presidente da Comissão Europeia não enjeitaria esse caminho, bem pelo contrário, também é verdade que algumas figuras do seu governo não tinham esse enquadramento ideológico - Morais Sarmento é um bom exemplo -, como também é certo que os dois posteriores líderes do PSD, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, não partilham da visão ideológica do actual presidente dos antigos(?) sociais-democratas.

O que parece claro é que há uma vontade de afastar todos aqueles que não concordam com a referida viragem ideológica do PSD. A barragem que é feita com quem não concorda com esse caminho é constante e violenta. É protagonizada por colunistas e membros do círculo próximo de Passos Coelho que não hesitam em apelidar de bloquista ou pior a quem não alinha no processo de "Tea partidarização do PSD". Não tardará muito para que Marcelo seja denunciado como perigoso esquerdista por esta vanguarda da direita radical.

A questão é saber quem está a mais no PSD.

Será que Marcelo e muitos dos que subscrevem a guinada violenta à direita do partido ainda se enquadram ou podem vir a enquadrar no PSD? Será que o partido deixará de ser social-democrata ou estamos apenas perante uma deriva radical que terminará quando o ciclo político de Passos Coelho chegar ao fim? Sobretudo, o que importa saber é se o eleitorado que votou no PSD nas últimas eleições quer um novo partido, se concorda com o novo caminho que agora é claramente proposto. Ou seja, se a tal deriva direitista corresponde a uma mudança no perfil de uma parte significativa ou não. Das duas uma: ou se enganaram quando votaram Passos ou se enganaram quando votaram em Marcelo. Algo parece evidente: as pessoas que votaram em Marcelo e Passos não voltarão a votar nos dois. E ambos estão a fazer que isso se torne claro.

2 - Sadiq Khan é o novo mayor de Londres. Uma comunidade que consegue dar oportunidades suficientes para que um filho de um condutor de autocarros e de uma doméstica chegue a mayor da mais importante cidade do mundo tem de ser elogiada.

É, por outro lado, uma gigantesca vitória para os nossos valores civilizacionais que um muçulmano seja o responsável por Londres, uma cidade que representa tudo aquilo em que acreditamos.

E é uma estrondosa derrota para os fundamentalistas islâmicos e para todos os que querem destruir a nossa civilização. (Pedro Marques Lopes - Diário de Notícias)

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